Vinicius Zepeda
Divulgação/Expoacqua/Unisuam
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Projeto
usou ensino de técnicas de manejo de peixes ornamentais
para fazer estudantes aprenderem a refletir sobre o meio ambiente |
Em busca de uma maneira atrativa de ensinar estudantes do Ensino
Fundamental sobre a importância da preservação do meio ambiente e da manutenção
da vida, uma equipe de professores e pesquisadores ligados ao Centro
Universitário Augusto Motta (Unisuam), a Fundação Instituto de Pesca do Estado
do Rio de Janeiro (Fiperj) – órgão da Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Regional, Abastecimento e Pesca – e a Associação dos Aquicultores Ornamentais
do Estado do Rio de Janeiro (AquoRio) desenvolveram um projeto de ensino de
técnicas de manejo e conservação de peixes ornamentais em aquário – a chamada
aquariofilia. Por sua proximidade, a escola escolhida foi o Ciep Professor César
Pernetta, na favela Parque União, no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio. Ao
acompanhar todas as oficinas quinzenais no primeiro semestre de 2013, abordando
temas sobre o meio ambiente e produção de peixes ornamentais, os pesquisadores
puderam observar a mudança de comportamento dos estudantes. O projeto, que
culminou com a doação de aquários e peixes aos estudantes, que passaram a
manejar o aquário em casa com a família, contou com auxílio do edital Apoio
a Projetos de Extensão em Pesquisa (Extpesq), da FAPERJ.
Os primeiros
resultados do projeto foram tema da dissertação do mestrado em Desenvolvimento
Local, na Unisuam, defendida pelo professor de Educação Física do Centro
Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow de Oliveira (Cefet) Paulo César Nepomuceno
dos Reis, sob a orientação de Silvia Conceição Reis Pereira Mello,
coordenadora do projeto e pesquisadora da Fiperj. As oficinas, a exposição de
peixes ornamentais e a montagem do aquário envolveram professores e 40
estudantes do 8º ano do ensino fundamental do Ciep, entre dezembro de 2012 e
julho de 2013. "Além de envolver diferentes disciplinas, manter um aquário
em sala de aula torna-se não apenas um instrumento de lazer como também uma
fonte constante de aprendizado. Toda essa atividade com certeza contribui para
despertar o interesse dos alunos pela biodiversidade e pela preservação do meio
ambiente", explica Silvia.
Divulgação/Unisuam
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Entre as atividades, os
estudantes do Ensino Fundamental do Ciep
César Pernetta ajudaram na limpeza do aquário instalado na escola |
O aquário serviu para a realização de inúmeras atividades. Para isso,
entre as primeiras etapas do projeto, houve oficinas e práticas em sala,
abordando diversos temas, como ação humana diante da natureza, importância de
cuidar do planeta, impacto do desmatamento das florestas, importância da
qualidade da água, as formas de preservá-la e evitar desperdícios, além da
introdução à própria aquariofilia. Nessa etapa, foi preciso definir tamanho do
aquário, uso de cascalhos e plantas, iluminação, filtragem, aquecimento e
monitoramento da qualidade da água. Diariamente, sob supervisão dos
professores, os alunos tinham de acompanhar, numa planilha, a qualidade da
água, medindo temperatura, níveis de amônia e pH. Semanalmente, era a vez de
proceder à limpeza, com troca de água, evidenciando a importância da manutenção
do ambiente limpo para a conservação da vida. "Os alunos também produziram
textos com os conhecimentos adquiridos."
Eles também foram
encarregados de levar peixes Betta, ração e um puçá para casa, onde cuidariam
deles com a orientação de um manual", conta Silvia. A pesquisadora destaca
a importância do envolvimento dos alunos e suas famílias nesses cuidados. "Alguns
alunos deram comida demais e acabaram matando os peixes, outros esqueceram de
trocar a água. Os que perderam os peixes ficaram extremamente tristes, mas tudo
isso os mobilizou e os deixou mais focados e envolvidos no projeto",
afirma Silvia. Ela observou também outro benefício desse envolvimento. "Na
época, o clima na comunidade era tenso, operações policiais aconteciam
regularmente em função do controle do tráfico de drogas na região, e os
estudantes viviam um clima de tensão e estresse constante. Os cuidados com os
peixes em casa ajudaram a esquecer um pouco essa tensão, levando-os a se
concentrarem em cuidar de um animal, no caso, o peixe", destaca Silvia. Os
jovens ainda participaram de visitas guiadas a dois grande eventos: a Expoaqua
– uma grande exposição de peixes ornamentais, com ciclo de palestras sobre o
tema – e o Enabettas 2013 – competição de peixes Betta.
Divulgação/Unisuam
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Silvia
Mello e os alunos do Ciep durante o dia da montagem do aquário
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Os estudantes também responderam um questionário. Segundo Nepomuceno,
que usou os resultados em sua dissertação de mestrado, alguns deles mereceram
destaque. "No que diz respeito à importância do uso da água, inicialmente,
87,5% deles haviam respondido positivamente antes da montagem do aquário. Mas
depois, todos foram unânimes em destacar a importância desse recurso natural.
Outra questão foi o desperdício. Ao responder a pergunta se fechavam ou não as
torneiras enquanto escovavam os dentes, 62,5% responderam que sim, antes do
projeto; depois, esse número subiu para 81%. Os dados mostraram uma mudança de
atitude em relação à água, e seu consumo", explica Nepomuceno. Sobre o
comportamento dos jovens no ambiente escolar, antes do início do projeto os
resultados mostravam que 42,5% falavam mais, 35% escutavam mais e 22,5% não
responderam. Após o projeto, esse percentual se dividiu igualmente em 50% para
falar mais e 50% para escutar. "Essa mudança de atitude e o fato de
ninguém deixar de responder à pergunta mostraram o aumento da desinibição dos
estudantes quanto a uma participação mais efetiva, o que indicou maior
comprometimento e espírito de grupo ao dividirem de forma equilibrada o ato de
falar e escutar", complementa.
Para Nepomuceno, a
participação no projeto foi extremamente gratificante. "Pude constatar
como os diferentes campos do conhecimento podem se complementar e auxiliar no
aprendizado dos jovens. E, como profissional de Educação Física, entendo que
tanto o nosso corpo quanto o ambiente pessoal precisam ser estimulados para se
manter dentro dos padrões não só físicos, mas éticos e sociais", explica.
Segundo o pesquisador, quando a aquariofilia entra como tema motivacional, está
buscando criar para os jovens uma oportunidade de se envolver com um tema que
desperte seu interesse, além de oferecer uma formação teórica que no futuro
poderá contribuir para uma escolha profissional. Ele ainda destaca os valores
passados aos estudantes pela iniciativa. "Enquanto instituição responsável
pela formação, a escola muitas vezes peca pela valorização do cognitivo em
detrimento da formação humana. É nesse sentido que observamos a grande
importância desse trabalho, que tem como ponto forte o enfoque no
desenvolvimento de valores humanos como responsabilidade e compromisso",
acrescenta.
O aquário no Ciep
Professor César Pernetta continua sendo cuidado pelos alunos, professores e
estudantes de Iniciação Científica da Unisuam. Em março, cerca de 20 alunos de
turmas do 8º e do 9º ano que mais se mostraram interessados no cuidado com os
peixes serão selecionados para participar de um curso sobre preservação do meio
ambiente e aquariofilia no centro universitário. "O retorno pelos
adolescentes tem sido extremamente gratificante. Esperamos buscar mais recursos
para expandir o projeto para outras escolas de ensino fundamental e, com isso,
aumentar ainda mais a conscientização sobre a importância da preservação do
meio ambiente, em especial dos recursos hídricos", conclui.
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